quinta-feira, 19 de março de 2009

NA CRISTA DA ONDA OU NA ONDA DA CRISE?


Por
JOÃO CARLOS VITTE
A conhecida marolinha, metáfora usada pelo presidente Lula no final do ano passado para descrever como os efeitos da crise econômica chegariam ao Brasil, parece que está a caminho de virar um tsunami. Pelo menos para muitos municípios brasileiros.Recentemente, pressionado pela queda na arrecadação de impostos, o Governo Federal fez um corte de R$ 210 milhões no Fundo de Participação dos Municípios (FPM). A diminuição desse repasse com certeza deixará muitos municípios na mão. Em muitas cidades, a verba do FPM representa cerca de 18% da arrecadação municipal; pequenos municípios inclusive dependem em grande parte desse recurso para fechar a folha de pagamento. Se até capitais do porte de Recife já sentem as consequências do corte do FPM, imagine-se a situação das pequenas cidades.Sem este dinheiro, as cidades brasileiras deixarão de investir em obras indispensáveis para seu desenvolvimento, não podendo enfrentar o aumento do desemprego provocado pela dispensa do setor privado.Muitos municípios dependem das indústrias que estão sendo gravemente afetadas pela crise mundial e pela escassez de crédito no mercado. Em conseqüência, essas cidades enfrentam um índice de desemprego crescente. Só em dezembro de 2008 foram perdidos mais de 650 mil postos de trabalho na economia formal. E, apesar de a indústria automobilística ter puxado a produção industrial em janeiro deste ano, houve no entanto um recuo de 17,2%, em comparação com janeiro do ano anterior. Foi a maior queda desde janeiro de 1991.O setor agropecuário é outro que está sendo muito afetado pela crise. Segundo o Cadastro Geral de Empregados e Desempregados (Caged), a agropecuária brasileira teve uma perda mais de 134 mil postos de trabalho formais em dezembro de 2008. Sem falar da queda das exportações, o que está levando muitas empresas agrícolas a uma retração crítica.Muitos não percebem que o desemprego não atinge essa abstração chamada União. Ele atinge diretamente as pessoas que vivem nos municípios. Eles são os primeiros a ser afetados pela diminuição da arrecadação de impostos.As marolas - se assim podemos chamar as pequenas crises - levam os empresários à estocar, não a demitir. Diminuem-se os lucros, mas as empresas não vão à falência. Criam dúvidas, mas não o desespero.Ninguém sabe ainda quanto tempo essa crise vai durar. O presidente Lula puxa o coro dos otimistas, dizendo que, graças ao bom estado de sua economia, o Brasil vai se recuperar antes mesmo do que os países desenvolvidos. Outros, mais céticos, não crêem que escapemos incólumes. Só podemos esperar que a onda, que definitivamente não é uma marola, não seja muito grande a ponto de se tornar um tsunami.
*O autor é Prefeito de Santa Gertrudes, interior de São Paulo.