terça-feira, 24 de fevereiro de 2009

Compositor pernambucano famoso defende renovação do Frevo

Por
Juliana Nunes
Ele misturou o frevo à MPB, ao jazz e ao forró. Trouxe para o centenário ritmo pernambucano letras que não restringiam a música ao carnaval. Aos 30 anos de carreira, o caruarense Carlos Fernando, 67 anos, é um dos homenageados deste ano do carnaval de Recife, ao lado do criador do Galo da Madrugada, Enéas Freire, e do artista plástico Cícero Dias.“Sou o único homenageado vivo. Isso é uma grande responsabilidade. Fico muito honrado. Até porque moro no Rio. Mas sempre venho passar o carnaval em Recife. Volto grávido de frevo, mas vou dar a luz lá, no silêncio da reserva ecológica onde moro em Niterói”, conta o compositor, que escreveu músicas como Banho de Cheiro, famosa na interpretação de Elba Ramalho, e lançou o disco Asas da América, em 1980, com frevos cantados por artistas como Chico Buarque e Gilberto Gil.Na década de 60, ainda em Recife, Carlos Fernando participou do Movimento de Cultura Popular de Pernambuco, um dos focos da resistência ao governo militar no estado. “Hoje, politicamente, o que me incomoda é esse orçamento público pequeno para o frevo e para qualquer manifestação cultural. O governo, a iniciativa privada, a indústria do turismo precisam se associar para mudar isso.” Na maratona de desfiles, shows e festas, Carlos Fernando se mantém firme na cidade, sempre fantasiado e bem-humorado, principalmente nos bate-papos com os músicos da nova geração. Foi assim, nos bastidores da abertura do carnaval, quando um grupo de novos artistas pernambucanos, liderados pelo cantor Ortinho, apresentaram o show Nave do Frevo, com releituras do trabalho do “mestre” no ritmo do rock, punk e do manguebeat.“Não tive a menor intenção de revolucionar. Apenas quis fazer. É a obrigação de todo criador, cineasta, compositor, artista plástico, ele precisa ser ousado. Talvez eu tenha sido ousado. Mas fica por conta da crítica, eu não posso me auto-elogiar”, brinca Carlos Fernando, que reclama da falta de discos com suas composições nas lojas, mesmo no ano da homenagem. Segundo o compositor, uma reedição de Asas da América é esperada para este ano.Da nova geração de compositores de frevo, Carlos Fernando destaca o trabalho do maestro Spok, da Spok Frevo Orquestra e do maestro Forró, da Orquestra da Bomba do Hemetério. “O Spok está levando o frevo a países como a Índia. Quando, há 50 anos, a gente pensava em frevo na Índia? O maestro Forró também, que é uma pessoa chaplinianamente falando interessantíssima, está levando o frevo pra ser uma coisa mais universal e brasileira.” Para renovar o frevo, Carlos Fernando diz que é necessário criatividade, um olhar especial para o piano e uma letra próxima da juventude. “O frevo precisa atingir outras pessoas, outras camadas, outros tempos. Não pode ser refém do carnaval. Precisamos cuidar da melodia, da letra, dos arranjos, da capa dos discos. O frevo exige mistério. O frevo é multicolorido.